O Advento e a morte

Depois de 2 ou 3 dias a falar da morte, eis-nos de novo no Advento. Depois da morte vem a expetativa de um novo nascer ou de um "renascer".

Entristece-me o facto de só falar-se da morte de pessoas "famosas". Não merecerão a mesma atenção e a mesma dignidade aqueles pescadores que perderam a sua vida na faina a norte de Lisboa? E os marinheiros daquele submarino da Argentina?

Era conhecida a frase de Belmiro de Azevedo: "A diferença entre o nascer e o morrer é um fatinho e um par de sapatos." Então o que é que nos diferencia neste mundo?

Nada! O ser humano é que "julga" que o estrato social, a riqueza, o "glamour", a filiação e a origem faz a distinção. Errado! Neste mundo as aparências podem diferenciar-nos, mas a essência, a realidade é a mesma.

Por esta razão é que o Evangelho deste domingo é acutilante: Vigiai! Não sabemos nem a hora nem o momento...

É verdade que no Evangelho de São Marcos vemos os crentes que estavam cansados de tanto esperar vinda de Jesus Cristo, a última. Podemos ver o mesmo em São Paulo. Aquelas comunidades esperavam a vinda de Jesus iminentemente. Passados mais de 2000 anos, continuamos sem saber o dia e a hora...

O Advento é um tempo que nos ajuda a "pensar" nesse tempo que é o nosso - o meu tempo - em que terei esse encontro com Deus Pai. Enquanto se espera o Natal, a liturgia recorda-nos que esperamos o Senhor. Esta segunda vinda, que será o fim da nossa história neste mundo e o encontro definitivo com Jesus, dará sentido a toda esta nossa vida, bem como à primeira vinda de Jesus, naquela manjedoura.

Se esta primeira vinda comove-nos, a verdade é que não nos salva! Jesus salva-nos porque morre e ressuscita. Esperar a segunda vinda significa que esta dará sentido à primeira. Celebrar o Natal tem sentido enquanto se espera esta vinda última que nos "eleva" aos céus, à vida eterna! Que me interessa festejar o nascimento de Jesus se continuo com o "horizonte" deste mundo? É-me importante na medida que me eleva a uma vida futura e sem fim.

O Advento é o tempo em que me dou mais tempo de pensar e projetar esse tempo sem fim. Caso contrário não passa de um exercício de auto compaixão pela vida que levo neste mundo. Ou o Advento é um tempo de pensar no que sou e no que posso ser, ou é um tempo inútil em que me "ocupo" miseravelmente porque não tenho nada mais para me ocupar e dar significado à minha vida e existência.

Vigiar é estar atento. Não com atenção ao que diz a "bola de cristal", mas ao que faço com esta vida que me foi dada. Quantas vezes "banalizamos" a vida que nos foi dada? Quantas vezes é que não damos vida à vida que possuímos? E possuímos sem pedirmos. Alguém de nós pediu para existir? Então, desta vida que nos foi dada, o que é que fazemos? Como é que vivemos? O que é que esperamos?

Que este Advento nos ajude a "recentrar" no essencial. A morte, tão "fustigada" nestes últimos dias, nos ajude a centrar no essencial.

O que esperamos nestes nossos dias? O que esperamos neste nosso tempo? O que esperamos na hora da nossa morte?

Votos de uma semana atenta e vigilante, como no resto dos nossos dias...

Paulo Vitória

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