Família eucarística

O Arcebispo de Braga desafiou ontem (22 de Junho) as famílias a serem autênticos lares eucarísticos e a que tenham a Eucaristia como princípio, orientação e horizonte de todas as suas atividades.
Estes foram os dois desafios que D. Jorge Ortiga deixou ontem na sua homilia na missa da solenidade do Corpo e Sangue de Cristo a que presidiu na Sé de Braga.
Para o prelado, muitas pessoas hoje caem no que denominou «pecado do hotel», «ou seja, quando fazemos da nossa família apenas um hotel onde vamos apenas comer, dormir e ver televisão, em vez de fazer da nossa família um autêntico lar onde falamos, rezamos, debatemos, brincamos e sorrimos em conjunto», explicou.
Para o prelado, pior do que isso é quando se desperdiça o almoço de domingo em família ou até de outra ocasião durante a semana, «para fazer desse momento uma refeição verdadeiramente eucarística». «Por outras palavras, uma refeição na qual nos alimentamos, não só dos alimentos que estão sobre a mesa, mas também nos alimentamos uns dos outros, através de uma relação mais viva e evidente que se expressa», acrescentou.

Segundo D. Jorge Ortiga, «quando nos sentamos à mesa, nós ficamos todos iguais, ao mesmo nível, no mesmo patamar, e ficamos todos habilitados para partilhar aquilo que somos».
Assim, salientou ainda, se este momento, que se pretende que seja realmente familiar, for melhor aproveitado, será possível «evitar muitas situações desagradáveis e negativas nas nossas famílias». «Não basta morar debaixo do mesmo teto. Se “quando dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”, implica não desperdiçar o dom da presença de Cristo e fazer sentir nos outros esta nossa alegria», acrescentou.
Na sua homilia, o Arcebispo de Braga aproveitou para deixar um segundo desafio, respeitante à qualidade da liturgia.
«Ao olhar o programa pastoral da Arquidiocese, arriscaria dizer que esta Eucaristia do Corpo e Sangue de Cristo é, sem dúvida, o momento central do nosso ano pastoral. Trata-se, dessa forma, de um momento favorável para avaliarmos o modo como preparamos, celebramos, estamos, rezamos, respondemos e cantamos nas nossas celebrações», sustentou.
Segundo o prelado, durante o ano foram promovidas pelo Departamento de Liturgia inúmeras formações para todos os agentes litúrgicos. «Mas agora falta a vossa parte», salientou.
«É hora de uma verdadeira revisão sobre o que ficará deste ano pastoral. Não peço que façais celebrações pontifícias semanalmente, apenas que coloqueis ao serviço da celebração as vossas qualidades», pediu D. Jorge Ortiga.
«Não quero que reduzais a vossa espiritualidade somente à Eucaristia, mas que Ela tenha adevida importância na vossa vida. Não pretendo que a Eucaristia seja o único foco de ação pastoral, mas que seja o princípio, a orientação e o horizonte das vossas atividades», acrescentou o prelado.
Perante os fiéis que encheram por completo a Sé de Braga, D. Jorge Ortiga aproveitou também o momento para realçar a solenidade do Corpo e Sangue de Cristo nos dias de hoje.
Para o Arcebispo de Braga, num tempo em que a nossa sociedade é invadida pela espiritualidade da “New Age”, onde surgem novas divindades, a crença fundamentalista na tecnologia e na ciência, novas relações humanas, uma nova visão cosmológica e antropológica do mundo, a obessão pela economia e a alteração dos princípios morais, a celebração do Corpo de Deus faz muito mais sentido.
Segundo defendeu, celebrar a solenidade do Corpo e Sangue de Cristo nos dias de hoje é «demonstrar à sociedade que o Deus no qual nós acreditamos é, ao contrário do que se possa pensar, um Deus pessoal, vivo e próximo do Homem».
D. Jorge Ortiga, realçando que o evangelho ensina a «comer o pão descido do céu» sublinhou que a «Eucaristia é, por isso, o sacramento em que se torna visível, de um modo mais explícito, esta união entre o Homem e o próprio Deus». «A Eucaristia, enquanto ato litúrgico por excelência, tem que ser o centro da nossa vida, reportando-nos depois para uma fé vivida no meio dos outros», acrescentou.
Retomando uma das ideias que deixou na homilia da Missa do Lava-Pés deste ano, o Arcebispo de Braga concluiu realçando que não os cristãos não podem prescindir da Eucaristia, «pois ela tem um antes e um depois, isto é, uma vida de encontros ou de desencontros, e atenção aos outros ou de fechar os olhos, dando assim alento à denominada “globalização da indiferença”».
No final da Eucaristia saiu à rua secular Procissão do Corpo de Deus, presidida por D. Jorge Ortiga, que percorreu as ruas do centro histórico da cidade. Apesar da chuva, nela tomaram parte os sacerdotes da diocese, o Cabido, os acólitos, os alunos dos seminários, e os membros das congregações e institutos. As paróquia levaram o estandarte eucarístico.


DM 23 de Junho de 2014

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