«Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras»


CADA DIA O SEU AFà                                                  
Na sua mensagem para a quaresma deste ano 2012, o Papa Bento XVI toma como base das suas  reflexões uma frase da Carta aos Hebreus: «Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras» (Heb 10,24). Seguramente que já a lemos muitas vezes sem nos advertirmos da profundidade que encerra. Nesta ocasião, o Papa faz sobressair três pontos que podem servir-nos de pauta para a vida durante a quaresma.
  1. “Prestemos atenção”. Vivemos de forma apressada, sem nos preocuparmos com a situação dos demais ou das roturas que podemos causar no coração dos outros. A indiferença ou o desinteresse nascem do egoísmo, encoberto pela aparência do respeito pela esfera privada. Mas o texto bíblico exorta-nos a estar atentos uns aos outros. Ignorar a sorte dos irmãos pode ser o nosso pecado mais grave. 
Falamos muito de solidariedade, mas esquecemo-nos da fraternidade. Só a fé nos faz descobrir o outro como um irmão. “Se cultivamos esta fraternidade, a solidariedade, a justiça, assim como a misericórdia e a compaixão, brotarão naturalmente do nosso coração”. E a compaixão nos levará a descobrir as necessidades materiais dos demais: mas também os seus preceitos morais para lhes oferecer o dom da correcção fraterna. 
2. “Uns aos outros”. Com razão diz o Papa que “uma sociedade como a actual pode chegar a ser surda, tanto diante dos sofrimentos físicos, como diante das exigências espirituais e morais da vida”.
Humanamente não podemos viver isolados. E cristãmente, sabemos que pertencemos a um mesmo corpo. “Isto significa que o outro me pertence, a sua vida, a sua salvação, têm a ver com a minha vida e a minha salvação”. Os meus pecados envenenam o ar que os demais respiram, como dizia o protagonista da novela “O diário de um cura rural” de Bernanos. Os pecados dos demais são estratagemas que dificultam o meu caminho, mas a sua bondade acompanha-me e anima-me. Todos colaboramos por manter a esperança dos demais.
3. “Para nos estimularmos ao amor e às boas obras”. O estímulo ao bem é a chave da caridade e da fraternidade. Não fomos postos no mundo para nos acomodar à preguiça. Fomos clamados a caminhar juntos na santidade. O tempo que nos foi dado na nossa vida é precioso para descobrir e realizar boas obras no amor de Deus”.
Há que superar a tentação da tibieza e recordar a nossa vocação à santidade. Nem tudo o que somos se reduz às obras que fazemos. Mas não podemos deixar de praticar o bem, tendo em conta que o bem há-de ser bem realizado.
 “Diante um mundo que exige dos cristãos um testemunho renovado de amor e fidelidade ao Senhor, todos hão-de sentir a urgência de pôr-se a competir na caridade, no serviço e nas boas obras (cf. Hb 6,10)”. Boa recordação para este tempo santo de preparação para a Páscoa. 

José-Román Flecha Andrés
Universidade Pontifícia de Salamanca
Diário de León 25.2.2012

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